SÃO PAULO, SP, E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O desempenho dos estudantes brasileiros não avançou após a pandemia nas três áreas do conhecimento avaliadas pelo Pisa 2022, uma das principais avaliações de qualidade da educação básica do mundo. Depois de uma década sem melhora significativa, o Brasil agora registrou pequena queda ou estabilidade, ao mesmo tempo que a nota nos países ricos caiu para níveis "sem precedentes".

O Pisa foi divulgado na manhã desta terça (5) pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), em Paris. Esses são os primeiros resultados em matemática, leitura e ciências que permitem comparar o impacto da pandemia do coronavírus -e do consequente fechamento de escolas- no aprendizado dos alunos em diferentes locais do mundo.

Os dados indicam que a crise sanitária teve um impacto global significativo na nota média dos países membros da OCDE, entidade que representa países ricos, nas três áreas avaliadas. Em matemática, houve uma redução de 15 pontos entre 2018 e 2022 -o que equivale a uma perda de mais de meio ano de aprendizado na disciplina.

O Pisa avaliou 690 mil estudantes de 15 anos, em 81 países e regiões do mundo. Realizada pela primeira vez no ano 2000, a prova, que costumava ser aplicada a cada três anos, foi adiada em um ano por causa da pandemia. Assim, a edição, programada para 2021 foi feita no ano passado.

"Em duas décadas de provas do Pisa, a média da OCDE nunca havia mudado mais do que quatro pontos em matemática de uma edição para outra. Isso é o que torna os resultados de 2022 tão únicos. A queda dramática de performance em muitos países e a pandemia de Covid-19 parecem ter uma forte ligação", diz o relatório.

Mais uma vez foram os países e territórios asiáticos que tiveram os melhores resultados na prova. Singapura voltou a registrar o melhor desempenho em todas as áreas, sendo seguido pelo Japão e Coreia. Os três países tiveram melhora nas médias mesmo durante a pandemia.

O Brasil seguiu a tendência dos demais países, com queda nas três áreas, ainda que tenha tido perdas bem menos acentuadas que a média dos membros da OCDE. A área mais afetada entre os estudantes brasileiros foi matemática, em que a nota caiu de 384 para 379, entre 2018 e 2022. Há dez anos, a média era de 389.

Essa perda de nota em matemática foi a mais relevante, uma vez que, de acordo com os critérios de comparabilidade entre diferentes, há uma margem de 2,24 pontos. Nas outras áreas, a oscilação negativa é menos representativa.
O desempenho em leitura passou de 413 pontos, em 2018, para 410, em 2022. Metade dos estudantes brasileiros está no nível abaixo do básico em leitura, o que significa que eles têm dificuldade, por exemplo, de identificar informações explícitas em um texto.

Neste ano, o Pisa focou a avaliação na área de matemática, o que significa que os estudantes responderam a mais questões dessa disciplina. Segundo a OCDE, a prova não busca avaliar se o aluno aprendeu o uso de fórmulas ou conceitos, mas a capacidade de usar e interpretar a matemática para seu cotidiano.

Os resultados mostram ainda que 70% dos estudantes brasileiros têm um desempenho em matemática abaixo do considerado básico para a idade. Segundo a avaliação, esses jovens não alcançam um nível de proficiência adequado para "participar plenamente da sociedade", ou seja, não conseguem usar os conceitos matemáticos para resolver problemas cotidianos.

Mesmo com a piora nas médias, o Brasil conseguiu melhorar sua posição no ranking em relação aos demais países. Em matemática, passou do 71º lugar para 65º, mas ainda segue distante da média da OCDE, que foi de 472 pontos, e continua atrás de países como a Arábia Saudita, Peru, Costa Rica e Colômbia.

PAÍSES QUE FECHARAM ESCOLA POR MENOS TEMPO TIVERAM MELHORA

Segundo o relatório, os países que passaram menos tempo com escolas fechadas durante a pandemia foram os que conseguiram manter ou melhorar os resultados educacionais no período. O Brasil ficou entre os que tiveram a interrupção de aulas presenciais por mais tempo.

Na média da OCDE, 51% dos estudantes passaram mais de três meses com escolas fechadas nesse período. Já no Brasil, mais de 74% responderam ter passado mais de três meses sem aulas presenciais.

"O Brasil foi uma das poucas exceções em que a performance não piorou. Permanece estável desde 2009, sim, mas a estabilidade foi impressionante especialmente considerando que as escolas foram fechadas", afirmou nesta terça Mathias Cormann, secretário-geral da OCDE, em entrevista coletiva comandada pelo ministro da Educação, Camilo Santana.

Camilo declarou que o Pisa não é um fim em si mesmo. "Temos no Pisa um lugar que possa orientar as políticas do MEC [Ministério da Educação]", disse ele.

RESULTADO AINDA É CONSIDERADO RUIM

Segundo a presidente do Movimento Todos pela Educação, Priscila Cruz, as notas do Brasil caíram, mas é importante pontuar que essa variação foi menor que a média dos outros países. O problema maior, diz ela, é que o país permanece com maus resultados e muito pior que o resto do mundo.

"O Brasil que que ser liderança mundial, quer estar entre os países desenvolvidos, é o mesmo que está nos últimos lugares do Pisa. A gente precisa pelo menos liderar a América Latina", diz. Cruz também ressalta que, diferentemente de duas décadas atrás, quando surgiu o Pisa, o país tem evoluído na construção de políticas públicas mais estruturantes na área, mas ainda falta enfrentar questões centrais.

"O Pisa está alertando para as políticas que mais avançam e que são as mais complexas. Que são o conjunto de políticas docentes e a integração com a primeira infância", diz.

A presidente do Instituto Singularidades, Claudia Costin, diz que os resultados desta edição trazem uma certa surpresa, considerando que a queda do Brasil foi menos intensa que a média da OCDE apesar de o país ter sido um dos recordistas em tempo de escolas fechadas na pandemia. Ela ressalta, no entanto, que o patamar do Brasil é inaceitável.

"A verdade é que já estávamos em um patamar baixo, especialmente em matemática, o que é inaceitável para um país com a 13ª economia em termos de PIB [Produto Interno Bruto]", diz.

Costin chama atenção para os desafios formação de professores, sobretudo na área de exatas, o que também foi apontado por Priscila Cruz.

Chico Soares, que foi presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), órgão responsável por avaliações como o Enem, também atribui os baixos resultados brasileiros a problemas estruturais no ensino. "O Brasil está muito aquém do que poderia estar porque ainda não ensinamos os nossos jovens a desenvolverem habilidades, a pensar, a ver a importância do que aprendem em sua vida cotidiana."

A superintendente do Itaú Social, Patricia Mota Guedes, ressaltou que o país apresentou notas bem próximas do que foi registrado no pré-pandemia, o que pode ser atribuído, segundo ela, ao empenho de determinados professores e da comunidade escolar. "No momento, o desafio é confirmar a tendência de crescimento na aprendizagem e, como alternativa para essa proposta, está a implementação do Sistema Nacional de Educação, que integrará as políticas e ações educacionais da União, Estados, Municípios e Distrito Federal", diz.

Fonte: Notícias ao Minuto