SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – No domingo (17) e na segunda-feira (18), 30.787 candidatos aprovados na primeira fase da Fuvest farão as provas da segunda fase para disputar uma das 8.147 vagas oferecidas na USP (Universidade de São Paulo).
No primeiro dia, além das dez questões de português, sobre interpretação de texto, gramática e literatura, o candidato também terá de fazer a redação, que é de suma importância para todas as áreas escolhidas. Tirar zero na redação é eliminação certa.
A prova é uma dissertação argumentativa (o estudante expõe uma visão e a sustenta por meio de argumentos), como pedida no Enem, na Vunesp e na PUC. Porém, possui particularidades que a diferenciam das demais.
Por isso, a reportagem ouviu professores de redação para darem dicas para o aluno tirar a nota máxima e se destacar entre os concorrentes.
REDAÇÃO TEM PRIORIDADE
Um ponto comum citado por todos os especialistas é que a redação deve ter prioridade do candidato no primeiro dia de provas. Mais descansado, ele poderá identificar mais facilmente o tema e se lembrar dos argumentos necessários para defender a tese proposta.
Eles sugerem os seguintes passos:
1) Identificar o tema, que fica, geralmente, após os textos da coletânea.
2) Fazer a leitura direcionada dos textos da coletânea. Com o tema identificado, o candidato deve voltar e grifar as partes mais importantes dos textos.
3) Listar no rascunho as fontes de conhecimento armazenadas na memória. É importante fazer notas de lembranças filosóficas, de sociologia, história antiga e contemporânea, geografia geopolítica, reportagens, documentários, música, cinema, antropologia etc. Tudo o que tiver relação com o tema proposto.
4) Escrever o seu texto, apresentando o tema logo no primeiro parágrafo e deixando pelo menos implícita a resposta à pergunta feita pela banca. Na sequência, apresentará seus argumentos em dois parágrafos e, na conclusão, é preciso retomar o tema com a resposta, mas desta vez explicitamente.
Com o rascunho do texto pronto, o candidato deve fazer a prova de português. Esse período de cerca de duas horas sem pensar na redação fará com que o candidato volte depois com um olhar mais crítico, para identificar possíveis falhas ou ajustes antes de escrever o texto definitivo, a caneta, na folha da redação.
"Na Fuvest é possível dedicar uma hora e meia a duas horas para a redação. É um tempo generoso. É possível pensar com mais cuidado, fazer anotações e uma boa revisão do rascunho antes de entregar.
As questões da prova de literatura podem dar novas ideias para a redação", explica Felipe Leal, professor de redação e filosofia do Curso Anglo.
PERFIL TEMÁTICO
A Fuvest costuma ampliar o alcance de suas discussões, sugerindo para a redação temas de cunho filosófico, sociológico e antropológico, como consumismo, decolonialidade, transumanismo, entre outros.
A coletânea disponibilizada normalmente é feita de textos que podem ser literários, artísticos, poemas, tirinhas e até imagens, além de textos acadêmicos, resultados de pesquisas da universidade, ou de grandes figuras, autoridades, no respectivo assunto.
"A frase temática é construída a partir de um problema social, global, normalmente abstrato, e, por isso, precisa de um autor capaz de enxergá-la como se fosse um problema de uma pesquisa acadêmica. Assim, o candidato deve aplicar seu conhecimento de mundo para sustentar o ponto de vista", destaca Luiz Carlos Dias, coordenador de redação do Colégio Etapa.
"Às vezes, uma música, livro ou série que o estudante conferiu servem melhor ao que ele está defendendo do que o uso de citações de autores não estudados", complementa Dias.
REPERTÓRIO E AUTORIA
A banca privilegia repertório e autoria.
– Repertório: é a busca do conhecimento extraescolar. A banca gosta de citações de filosofia, sociologia, sobre obras de arte, literatura e música. O importante é o candidato explorar ao máximo seu repertório cultural.
– Autoria: é a originalidade, a pessoa pensar por ela mesma e mostrar que não está seguindo modelos prontos. No Enem é possível tirar boas notas com modelos prontos. Na Fuvest, não.
A redação da Fuvest é uma dissertação argumentativa que segue os padrões estruturais, mas que destaca os candidatos que entendem melhor as discussões propostas pela coletânea, conseguindo produzir um texto aprofundado, com uma análise social crítica, uso de linguagem precisa (e não necessariamente rebuscada), com escolhas que contribuem para os argumentos.
"Tempos atrás, um aluno fez uma redação sobre fanatismo falando dos ídolos do futebol, das torcidas organizadas, mas a coletânea abordava o fanatismo político, religioso e decorrente da polarização. A nota caiu significativamente, porque embora tenha escrito sobre fanatismo, ele não escreveu contemplando o tema da banda examinadora", alerta Maria Aparecida Custódio, professora de redação do Curso e Colégio Objetivo.
CONCLUSÃO
Na conclusão da redação da Fuvest não é preciso apresentar uma proposta para lidar com o problema, uma solução -nem é recomendável, de acordo com o edital. Isso faz com que a conclusão seja mais curta e seja apenas uma síntese das ideias apresentadas no texto.
"A prova valoriza muito o desenvolvimento temático, ou seja, como o candidato interpretou a coletânea, que diferenças ele conseguiu ver a respeito do tema e como ele aproveitou as reflexões para construir uma boa tese. Depois disso, se desenvolveu o tema com profundidade, acrescentando informações, ou seja, a informatividade é um fator importante de qualidade nesse texto, e a progressão temática", diz Gabrielle Cavalin, coordenadora geral de redação do Poliedro.
Na conclusão, o candidato precisa evitar repetir o início do texto. Ele tem de ir além do que já escreveu.
"Dependendo de como abordou o assunto, ele pode fazer uma previsão do que discutiu: é uma tendência? É de que o tema se agrave, se intensifique, que venha a desaparecer? O candidato também pode fazer um alerta, mostrar o que pode acontecer se aquilo não for alterado ou se se mantiver", complementa Custódio.
COMPARAÇÃO ENTRE FUVEST E ENEM
Segundo os professores, a principal diferença entre as redações do Enem e da Fuvest é que a primeira cobra a solução para um problema social, enquanto a segunda quer avaliar a capacidade de argumentação do candidato.
No Enem: o tema é sempre uma problemática da realidade brasileira, com uma coletânea de textos-base do universo jornalístico, como notícias e infográficos, que dão suporte para o leitor entender as causas e consequências do problema apresentado. Então, o candidato tem que discorrer sobre o problema, entendendo suas causas e/ou consequências, para propor uma solução no final.
Na Fuvest: essa coletânea leva a uma grande reflexão sobre o mundo contemporâneo e, normalmente, é feita de textos que são de outros universos, podendo ser literários, artísticos, poemas, tirinhas e até imagens, além de textos acadêmicos e resultados de pesquisas da universidade.
A Fuvest exige habilidades de leitura um pouco mais elaboradas do candidato, no sentido da seleção das informações, da inferência e da interpretação.
"As propostas da Fuvest não costumam apresentar um caráter interventivo como as do Enem. Isso significa que dificilmente uma proposta de intervenção será adequada à discussão, embora, em alguns casos, exista a possibilidade de se propor um enfrentamento à questão abordada", afirma Jéssica Dorta, coordenadora de redação do Curso e Colégio Oficina do Estudante.
COMO EVITAR A NOTA ZERO NA REDAÇÃO?
– Nunca copiar os trechos de apoio. Não significa coletar uma informação ou ideia, mas copiar mesmo. A banca não admite isso e baixa bastante a nota;
– Não fugir do tema ou do gênero proposto (dissertação argumentativa);
– Não abordar algum ponto polêmico fora da curva de discussão;
– Não apresentar contraposições de ideias;
– Obedecer ao número mínimo de 20 linhas;
– Não deixar a folha em branco;
– Não adicionar elementos verbais ou visuais sem quaisquer relações com o que foi proposto pela banca examinadora.
Fontes: Felipe Leal, professor de redação e filosofia do Curso Anglo; Gabrielle Cavalin, coordenadora geral de redação do Poliedro; Jéssica Dorta, coordenadora de redação do Curso e Colégio Oficina do Estudante; Luiz Carlos Dias, coordenador de redação do Colégio Etapa.