SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Egito sedia neste sábado (21) uma cúpula de paz com o objetivo declarado de tentar evitar que o conflito entre israelenses e palestinos escale para uma guerra regional mais ampla –embora seja difícil que os líderes do Oriente Médio e da Europa concordem com uma posição comum sobre o conflito.
Participam do encontro 19 países, dentre eles os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (Rússia, China, França, Estados Unidos e Reino Unido), além de emissários da União Europeia e da própria ONU. O Brasil é representado pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, que manteve a posição humanitária do país em relação ao conflito.
Vieira descreveu os ataques do Hamas como "terroristas" e disse que Israel, como o "poder ocupante", tem responsabilidades específicas em relação ao direitos humanos dos civis envolvidos. O chanceler destacou os esforços do Brasil, à frente da presidência do Conselho de Segurança da ONU, para chegar a uma solução.
"Os muitos votos favoráveis que o projeto de resolução recebeu -12 de 15- são prova do amplo apoio político a uma ação rápida por parte do Conselho. Acreditamos que essa visão é partilhada pela comunidade internacional em geral", disse Vieira em seu discurso no Cairo. "Há um amplo apelo político à abertura de pausas humanitárias urgentemente necessárias, ao estabelecimento de corredores humanitários e à proteção do pessoal humanitário."
A proposta de resolução feita pelo Brasil teria sido aprovada pelo órgão mais importante da ONU com os votos que recebeu. Os Estados Unidos, no entanto, vetaram o texto sob a justificativa de que ele não previa o direito de autodefesa de Israel.
Washington, que atualmente não têm um embaixador designado para o Egito, foi representada na cúpula do Cairo pelo encarregado de negócios da sua embaixada. A ausência de um alto funcionário dos EUA, principal aliado de Israel, e de outros importantes líderes ocidentais reduziu as expectativas sobre o que o evento convocado às pressas pode alcançar.
Os premiês da Alemanha, Olaf Scholz, e do Reino Unido, Rishi Sunak, não participam do encontro, assim como o presidente da França, Emmanuel Macron. Da Europa, estão presentes, entre outros, a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, e o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel.
É improvável que haja um acordo final devido à sensibilidade do tema. Um alto funcionário da União Europeia disse na sexta-feira que houve discussões sobre uma declaração conjunta da cúpula, mas ainda existem "diferenças". Os países europeus têm lutado para chegar a uma abordagem unida para a crise, além de condenar o ataque do Hamas, após dias de confusão e mensagens mistas.
Líderes árabes condenam ataques israelenses
No começo do encontro, líderes árabes condenaram os bombardeios israelenses em Gaza, que já duram duas semanas, e exigiram novos esforços para alcançar um acordo de paz no Oriente Médio que acabe com o ciclo de violência entre israelenses e palestinos.
O rei Abdullah, da Jordânia, denunciou o que chamou de silêncio global sobre os ataques de Israel ao enclave e pediu uma abordagem imparcial para a disputa. "A mensagem que o mundo árabe está ouvindo é que as vidas palestinas importam menos do que as israelenses", disse, acrescentando que estava indignado e entristecido pelos atos de violência cometidos contra civis inocentes em Gaza, Cisjordânia e Israel.
"A liderança israelense deve perceber de uma vez por todas que um Estado nunca pode prosperar se for construído sobre uma base de injustiça. Nossa mensagem aos israelenses deve ser que queremos um futuro de paz e segurança para vocês e para os palestinos."
Já o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, disse que os palestinos não serão deslocados ou expulsos de suas terras. "Nós não vamos sair, nós não vamos sair", enfatizou.
O Egito está preocupado com a insegurança perto da fronteira com Gaza, onde enfrentou uma insurgência islâmica que atingiu o auge após 2013 e agora foi em grande parte suprimida. A posição do país reflete o medo árabe de que os palestinos possam novamente fugir ou serem forçados a deixar suas casas num movimento em massa, como ocorreu durante a guerra em torno da criação de Israel em 1948.
Em seu discurso, o ditador egípcio, Abdel Fattah al-Sisi, disse que seu país se opõe ao que chamou de deslocamento de palestinos para a região do Sinai. "O Egito diz que a solução para a questão palestina não é o deslocamento. Sua única solução é a justiça e o acesso dos palestinos a direitos legítimos e a viver em um Estado independente."