(FOLHAPRESS) – Especialistas escantearam a expressão "dengue hemorrágica" porque ela não passa a mensagem certa sobre a doença, afinal nem todos os casos de dengue grave ocorrem com hemorragia. A mudança foi feita inclusive no âmbito da OMS (Organização Mundial da Saúde), para passar a dimensão real do problema.
"O sangramento pode até estar presente", afirma André Bon, infectologista do Hospital Universitário da UnB (Universidade de Brasília), "mas na maioria dos casos o principal fator de gravidade é o extravasamento dos líquidos das veias e artérias". A doença provoca um aumento da permeabilidade dessas estruturas, permitindo a saída de água que pode parar em outras regiões do corpo, como a pleura, o pericárdio (tecido que envolve o coração) ou o abdômen, causando complicações.
Quando ocorrem, os sangramentos são mais comuns na gengiva, no nariz ou na urina. Em uma pequena porcentagem dos pacientes chegam a acometer o trato gastrointestinal -causando diarreia ou vômito com sangue- ou o sistema nervoso central e o cérebro. São causados por uma queda drástica nas plaquetas, que impede o processo eficiente de coagulação do corpo.
Com o avanço do verão, as preocupações com o mosquito voltaram. Segundo o relatório mais recente do Ministério da Saúde, só neste ano mais de 650 mil pessoas tiveram a doença, quatro vezes mais do que no mesmo período do ano passado. Já são 113 mortes confirmadas, e quase 500 ainda em investigação.
Gabriel Berg, infectologista e professor da Unesp, conta que atualmente os quadros de dengue são divididos em quatro categorias. Os casos clássicos incluem dores na cabeça, no corpo, nas articulações e atrás dos olhos, além de episódios de vômito ou diarreia. Se diagnosticados rapidamente e tratados adequadamente, são passageiros e não precisam de internação.
Já vômitos persistentes, dor abdominal intensa e contínua, hipotensão postural (sentir tontura ao levantar) e qualquer tipo de sangramento acendem um alerta para os médicos, indicando que o quadro pode piorar. Se o paciente apresentar hemorragia ou extravasamento dos líquidos, o caso é de dengue grave
Ao menor sinal dos sintomas, é preciso buscar um centro de atenção à saúde, onde a equipe médica poderá dar um diagnóstico preciso. Especialmente no cenário atual de cocirculação da dengue e da Covid-19, o professor Bon ressalta a importância da avaliação por especialistas, pois ambas epidemias têm características semelhantes. O especialista também lembra que existem medicamentos contra indicados, incluídos os anti-inflamatórios não esteroidais como o diclofenaco e o ibuprofeno, que aumentam o risco de sangramento.
Pessoas com doenças cardiovasculares, hipertensão, diabetes, imunossupressão, HIV/AIDS, transplantadas, em tratamento de câncer ou com histórico de dengue devem ficar ainda mais atentas aos primeiros sinais da doença, já que estão mais suscetíveis ao agravamento do quadro.
Ainda hoje a hidratação é o tratamento preconizado em todos os casos. Nos mais leves, a prescrição pode ser de 60 a 80 mililitros de água por quilo de peso ao dia. Também é muito importante que o paciente retorne para reavaliação no prazo estipulado pela equipe de saúde. Nos casos de internação, a reposição de líquidos é feita de forma intravenosa e pode ser acompanhada de medicações.
Recentemente, o governo brasileiro anunciou a disponibilização de 6 milhões de doses da vacina QDenga pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Berg afirma que a quantidade de imunizante adquirida não é suficiente para reverter o surto da doença que o Brasil enfrenta no momento, e que a medida é uma política que terá efeito no médio e longo prazo, conforme houver aumento da cobertura vacinal.
Os infectologistas, portanto, concordam que agora a melhor medida de prevenção da doença é o combate do vetor. A dengue é transmitida pelo Aedes aegypti, que se prolifera sobretudo em ambientes urbanos por meio de reservatórios de água parada. Além de eliminar os criadouros do mosquito, o uso de telas nas janelas e mosquiteiros pode evitar a contaminação.
Repelentes de Icaridina com concentração acima de 20% ou de DEET (dietiltoluamida) entre 20 e 50% também são aliados no combate à dengue, e devem ser aplicados depois de qualquer outro creme corporal ou protetor solar. O uso de ar condicionado em temperaturas baixas também ajuda a reduzir a atividade do mosquito. "O que temos hoje de efetivo é o controle do vetor, que se faz envolvendo a comunidade", afirma Berg.
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